quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O velho

O velho sem conselhos, de joelhos, de partida. Carrega com certeza, todo o peso da sua vida. Então eu lhe pergunto pelo amor. A vida iteira, diz que se guardou. Do carnaval, da brincadeira que ele não brincou. Me diga agora: O que é que eu digo ao povo? O que é que tem de novo pra deixar? Nada. Só a caminhada. Longa, pra nenhum lugar. O velho de partida, deixa a vida. Sem saudades, sem dívida, sem saldo. Sem rival ou amizade. Então eu lhe pergunto pelo amor. Ele me diz que sempre se escondeu. Não se comprometeu, nem nunca se entregou. E diga agora: O que é que eu digo ao povo? O que é que tem de novo pra deixar? Nada. E eu vejo a triste estrada, onde um dia eu vou parar. O velho vai-se agora, vai-se embora, sem bagagem. Não sabe pra que veio. Foi passeio. Foi passagem. Então eu lhe pergunto pelo amor, ele me é franco... Mostra um verso manco, de um caderno em branco que já fechou. Me diga agora: O que é que eu digo ao povo?O que é que tem de novo pra deixar? Não foi tudo escrito em vão e eu lhe peço perdão, mas não vou lastimar...

Chico Buarque

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